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Século XXI S/A
© 2005 Geraldo Ferreira de Araújo Filho
- Rio de Janeiro (RJ)

 


A maior parte das gaivotas não se preocupa em aprender mais
do que os simples procedimentos do vôo,
como o ir da costa até ao mar, pegar a comida e voltar.
Para a maioria delas, o importante não é voar, mas sim comer.
Para aquela gaivota, entretanto, o importante não era comer, mas sim voar.

Richard Bach, em “A História de Fernão Capelo Gaivota


Com o título “Qual o limite da sua mente?”, Ardis Withman publicou, em 1953, um artigo na revista Your Life, onde afirmava que todos nós vivemos em um nível mental muito inferior ao da nossa real capacidade.

Como exemplos, citava Jeremy Bentham, o filósofo inglês que desde os quatro anos de idade falava, lia e escrevia em latim e grego, o matemático alemão Zacharias Dase que certa vez multiplicou mentalmente dois números de cem algarismos, alguns tradutores da ONU que conseguiam trabalhar, simultaneamente, com quatro línguas diferentes e a capacidade de memorização do garagista do estacionamento em que deixava o seu carro, que sabia o número das placas das centenas de carros que lá estacionavam.

Tais constatações - a nós simples mortais - nos parecem tão acima de nossas reais possibilidades como a capacidade messiânica de poder andar por sobre as águas.

Ainda transitando pelos idos da década de 50, na Universidade McGill em Montreal, O Dr. Wilder Penfield coordenou estudos relativos à aferição da capacidade da mente, utilizando-se para isso de um eletrodo que, quando apontado para determinados campos do cérebro de um paciente - em plena consciência - suscitava reações as mais diversas: se na área da visão, o paciente via estrelas cadentes, se na da audição, escutava campainhas ou sinos, em uma outra ainda, ele levantava os braços.

Porém o resultado mais surpreendente, aconteceu com um paciente que, quando tocado na região da memória, reagiu da seguinte forma: “vejo um piano e minha mãe tocando. Vejo a roupa que ela veste e posso ouvir tudo o que acontece na sala tão bem como se lá estivesse”. Ou seja, aconteceu uma sensação presencial que reuniu de uma só vez visão e som, pensamento e emoção, opinião e julgamento.

O resultado dessa experiência nos remete à certeza de que todos os fatos dos quais fomos partícipes, em qualquer momento de nossa existência, encontram-se arquivados em pastas específicas no nosso “HD” cerebral. Não é sem fundamento, portanto, o relato daqueles que já vivenciaram episódios de morte eminente e que retornam dizendo que suas vidas lhes foram mostradas como se estivessem assistindo a um filme do qual eles mesmos eram os principais protagonistas.


A realidade é somente uma ilusão.

Albert Einstein

Na seqüência dessa linha de pensamento, imaginemos agora - apenas por alguns momentos e sem dogmatismo - que a tese reencarnacionista, ou seja, a multiplicidade de visitas que um mesmo espírito ou alma faz em sucessivas épocas a diversos corpos materiais assumindo individualidades e vivenciando os estágios evolutivos daqueles momentos, tenha fundamento.

Como nesse processo o que se modifica é apenas a roupagem física ou corporal - ou seja, o hardware daquela etapa reencarnatória - permanecendo inalterados no espírito ou na alma - que nada mais representariam do que o software da personalidade eterna de cada indivíduo - os registros de tudo o que já foi vivenciado em todas as reencarnações anteriores, descortina-se a percepção de que, com a evolução dos estudos do Dr. Penfield possamos, não apenas represenciar (palavra não contemplada no Houaiss) - ao vivo, a cores e em tempo real - os fatos relativos à atual etapa reencarnatória, como também de todas as demais pretéritas.

Isto possibilitaria, em casos específicos, vivenciar as experiências de Newton, ouvir Platão, assistir as batalhas de Tróia, presenciar o afundamento do Titanic, admirar, in loco, Da Vinci e Michelangelo, acompanhar os cálculos de Einstein e, até mesmo, escutar as pregações de Jesus, Confúcio, Buda e Maomé, de forma a retorná-las ao seu esplendor original, sem as deturpações propiciadas pela passagem dos tempos.

Dessa forma, podemos concluir que, assim como a eletricidade esteve em torno da humanidade durante todo o tempo, mas só muito recentemente aprendemos a utilizarmo-nos dela, o mesmo acontece com o poder fantástico de nossas mentes, ainda hoje relegadas a meras fazedoras de contas ou de divagações filosóficas menos ou mais, como queiram, consistentes.


Deixem de pensar nas coisas do passado e não se lembrem do que aconteceu outrora,
pois eu vou realizar uma coisa nova: já está acontecendo e vocês não a percebem.
Isaías

Modernamente, um grupo de pesquisadores do Laboratório de Mídia Europeu do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT) em Dublin, Irlanda, desenvolveu um videogame controlado pela força do pensamento, ou seja, ele obedece a comandos enviados diretamente pelo cérebro do jogador, sem a necessidade de fios ou de qualquer outro tipo de aparato.

Chamado de Mind Balance, o novo sistema é baseado no uso de um capacete com sensores - denominado Cerebus - que recebe e transmite a atividade cerebral do jogador para um receptor acoplado a um computador no qual o jogo for instalado, possibilitando controlar os movimentos de uma criatura parecida com um sapo de nome Mawg.

Esse capacete, possui seis diferentes tipos de sensores localizados sobre os lóbulos occipitiais e da parte de trás da cabeça, que são as regiões do cérebro associadas ao processamento da luz, da visão e... das alucinações.

Segundo Ed Lalor, um dos integrantes da equipe, o Cerebus permite a captação e a transmissão da atividade cerebral e a sua conseqüente interpretação pelo receptor do computador, em tempo real.

Isso significa que, muito em breve, o X-43A, um misto de espaçonave e de avião convencional, capaz de chegar ao espaço ou de voar na atmosfera terrestre a uma velocidade sete vezes superior à velocidade do som - e que fez o seu primeiro vôo não tripulado sobre o Oceano pacífico no final de 2004 - possa estar disponibilizando assentos já em meados da próxima década.

Não o pode fazê-lo agora pelo simples fato de que não há piloto disponível para comandar um vôo dessa natureza, haja vista que entre o pensar e o executar, existe um lapso de tempo crucial não permitido à essa estupenda velocidade.

Porém, com o desenvolvimento e instalação da tecnologia do Mind Balance/Cerebus nesse tipo de aeronave, a ação passa a ser executada na velocidade do pensamento, possibilitando, dessa forma, a sua concretização.

Mais ainda, de acordo com os cientistas do MIT, a técnica atualmente usada para jogar, também poderá vir a ser empregada para o desenvolvimento de outros equipamentos que teriam uma aplicação especificamente útil para pessoas paralisadas.

Um outro tipo de tecnologia baseado na força do pensamento está sendo desenvolvida na Universidade de Duke, na Carolina do Norte, pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis e baseia-se na implantação de eletrodos no cérebro de macacos, de forma a permitir comandos capazes de fazê-los moverem um braço mecânico.

Esses mesmos princípios, também já foram testados em 11 pacientes humanos com o Mal de Parkinson.

Em nosso próximo livro, “Empreendedorismo Criativo, a nova dimensão da empregabilidade” - que se inicia com a análise da formatação social da humanidade por volta de 8500 a.C. e termina com algumas projeções sobre os efeitos da fabulosa seqüência de modernizações da atual tecnologia disponível e a sua ingerência nos ambientes corporativos, já por volta do ano de 2050 de nossa era - permitimo-nos uma digressão sobre os anteriores e os atuais conceitos de administração, sobre a evolução do trabalho e, também, do próprio Homem enquanto espécie, haja vista que descortinamos e presumimos a inevitável extinção do Homo Sapiens, que cederá lugar ao surgimento do Homo Biotecnologicus, Cientificus ou, até mesmo, quem sabe, do Mediunicus.

Vale ressaltar que a grafia latina com que, por ora, denominamos a futura espécie em acelerado processo de ascensão como veremos no transcorrer do texto - muito embora ainda não sejam muitos os que disso consigam se aperceber - é uma liberdade que tomamos sob pena, inclusive, de estarmos ferindo, gravemente, o vernáculo latino. Interrompemos os estudos dessa língua ainda adolescente, quando o MEC a retirou do curriculum acadêmico.

De qualquer forma, desde que constatado o fato, os detalhes burocráticos de rotulação da espécie que nos sucederá muito em breve, são terciários, não obstante em muitas organizações perderem-se dias preciosos de trabalho com infindáveis reuniões, para se decidir qual é o melhor nome para um novo projeto a ser implantado.

A vaidade, decididamente, é o mais sedutor e letal de todos os pecados capitais.

Prosseguindo, então, vamos à constatação de mais alguns fatos, de forma a podermos dar seqüência lógica e bom sentido ao que até aqui conversamos.

Imaginemos que por volta do ano de 2014 uma criança de três ou quatro anos de idade ganhe de presente de aniversário um equipamento similar ao Mind Balance/Cerebus - comprado em 12X sem juros nas Casas Bahia ou, virtualmente e também parcelado, pelo Submarino.

É óbvio que, até lá, uma série de outros jogos e atrações vão estar disponibilizados nesse pacote.

Pois bem, no ano de 2024, dez anos depois, portanto, não é difícil presumir que a capacidade e a força mental daquele adolescente será, extraordinariamente, superior a de qualquer outro indivíduo que, até hoje, tivemos a oportunidade de conhecer.

Somemos a essa elucubração um outro fato, ocorrido e divulgado pela imprensa internacional em meados de 2004, no que tange à existência de um garoto russo que aos quatro anos de idade já estava levantando, simultaneamente, em cada uma das mãos, um peso de 15Kg. O diagnóstico desse quadro foi a constatação de que ele possui um volume de massa muscular duas vezes e meia superior à nossa.

Indagada pelos repórteres sobre o fenômeno, a mãe respondeu que a sua gestação foi absolutamente natural. Sem aditivos. Por obra e graça de Deus.

Mas será que quando aquela mãe referiu-se à obra e graça de um Deus, ela não estaria referindo-se aos estudos e pesquisas dos deuses de laboratório? A nós, personalissimamente, a segunda hipótese nos parece bem mais plausível.

Religiosidades e dogmatismos à parte, o que podemos constatar é que, caso este garoto já pudesse estar usufruindo a tecnologia Mind Balance/Cerebus, em poucos anos tranformar-se-ia no primeiro ser de uma nova espécie.

E, sem qualquer sombra de dúvida, não nos surpreendamos se, a partir de então, outros e outros mais bebês começarem a surgir com as mesmas características, como que por encanto, espontaneamente mesmo, até que essa realidade venha a ser aceita como “politicamente correta”.

De qualquer forma, o fato é de que já estamos vivenciando um processo em que o Homem, enquanto espécie, infere, diretamente, no seu próprio processo de transformação e evolução física e mental. E esse processo, querendo nós ou não, concordando com ele ou não, é irreversível. Já está acontecendo.

Resta-nos a expectativa de que, acoplado a ele, também surja em seu bojo um novo ordenamento ético-moral, compatível com os anseios planetários de entendimento e de pacificação.


Concluído o atual estágio de desenvolvimento da biotecnologia
- e com a modificação de algumas estruturas físicas e mentais do Homem -
será permitido que se comece a pensar mais seriamente na colonização do espaço sideral.

Alvin Toffler

Os computadores modernos, verdadeiras obras primas da capacidade empreendedora do Homem, nos têm propiciado oportunidades ímpares de desenvolvimento, em todos os campos. Não há negócio ou profissional de sucesso que, hoje, possa prescindir de sua utilização.

Estamos, no entanto, a caminho de uma realidade que transcende a tudo o que até então já foi fantasiado em termos de tecnologia. Muito em breve - já mesmo daqui a cinqüenta ou sessenta anos - todo o produto dessa delirante revolução tecnológica de ponta existente, transformar-se-á em sucata não reciclável.

Vamos aos fatos: os porquês de, tanto os Estados Unidos, quanto a União Européia haverem investido bilhões de dólares-euros para enviar à Marte dois “brinquedinhos por controle remoto” ao invés do próprio Homem, é resposta que presume um porque no singular: não existe disponível no mercado, nenhum ser estruturado para suportar em um cubículo de uma espaçonave, uma viagem de quase três anos e meio, a 20.000 Km por hora, através do espaço sideral. Nem física, nem emocional e nem psicologicamente. Meramente isso.

Ora, um ser provido de uma massa muscular bem mais consistente do que a nossa e, o que é mais importante, com um domínio mental extremamente superior, faria essa viagem com muito mais conforto e serenidade do que nós atualmente fazemos o percurso Rio-Paris, instalados que ficamos naqueles tamboretes que nos são disponibilizados na categoria econômica.

Vida de classe média brasileira é complicada, registre-se.

Isto porque, a comunicação telepática seria on line, em tempo real, posto que não existe nada conhecido que consiga trafegar com maior velocidade do que o pensamento, inibindo então, dessa forma, a sensação de solidão cósmica e permitindo, através dos mecanismos aprimorados ao longo da formação do astronauta, um permanente processo de conversação com os seus pares e familiares no planeta e um contínuo vivenciar das experiências terráqueas que lhe trouxerem maior alento, como acontecia naquelas experiências pioneiras do Dr. Wilder Penfield.

Mais ainda, auxiliado pelo up grade de um hardware turbinado - o próprio corpo físico - o software mental poderia autoprogramar-se para exercitar permanentemente os músculos - a exemplo dos antivírus que se mantêm em constante processo de varredura em nossas máquinas - permitindo, assim, que na chegada ao destino pudesse vir a estar em plena forma física, mental, psicológica, e porque não, espiritual.


A verdadeira filosofia é aquela que nos auxilia a reaprender a ver o mundo.
Merleau-Ponti

Não pretendendo continuar a abusar da paciência do leitor - mais do que já abusamos até aqui - iniciamos as considerações finais conclamando para uma reflexão sistemática e contínua sobre as inevitáveis implicações que essas transformações radicais trarão para o mundo corporativo.

Muito mais do que os processos e sistemas, o que está para sofrer uma fortíssima influência e profunda modificação, é a própria natureza do trabalho, uma vez que as características do novo ser não mais se permitirão encarcerar nos manuais verticalizados e dogmáticos que, pela própria natureza e concepção, transformaram-se nos grandes inibidores da criatividade nas organizações.

Vale registrar, que muitos e muitos contextos corporativos já entenderam esse nosso momento de transição e, intuitiva ou tecnicamente, encontram-se em franco processo adaptação a essas mudanças.

Não ainda, é bem verdade, preparando-se para acalentar em seus berços os frutos vivos dessa nova espécie que está por chegar, posto que ainda é um pouco cedo para isso, mas modernizando os enfoques laborais e reconhecendo na capacidade criativa do Homem, a sua principal e vital fonte de energia e perenidade.

Porém, os que disso não se aperceberem em tempo e continuarem dormitando nos colchões confortáveis do sucesso ilusório do agora, irão perder esse trem do futuro e, quando acordarem, vão ficar sem poder viajar, parados na estação do “já era”, à espera de um próximo comboio que não passará nunca mais.


Nossos interesses deveriam estar, sempre, voltados para o futuro.
Afinal, é lá que passaremos o resto de nossas vidas.

Karl Wilhelm Humboldt

 

Geraldo Ferreira de Araujo Filho ([email protected]) é Consultor, palestrante e autor do livro “A Criatividade Corporativa na Era dos Resultados”, Editora Ciência Moderna.
Ilustração: selecionada pelo próprio autor.

 

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