O episódio ocorrido com o menino João Hélio Fernandes Vieites de seis anos, arrastado no Rio de Janeiro, há pouco mais de um mês, por 7 km por um grupo de marginais ( não somente no sentido de “fora da lei”, mas à margem da sociedade ), mobilizou e chocou a sociedade brasileira como um todo. Chocou não somente pelo grau de barbárie, mas porque a sociedade está no seu limite de “tolerância” e necessita; deseja e exige mudanças; providências que altere definitivamente esse quadro. Até aqui, cremos que é ponto pacífico de que é preciso dar um basta, fazer um movimento de mudança, mas a questão é: Que mudança é essa? Por que caminhos isso vai se dar? Será que imprimindo uma mudança na lei no que diz respeito à maioridade penal, como existe um grande movimento pra isso, vai dar conta da violência? A diminuição da violência passa exclusiva e/ou necessariamente pela alteração da Lei?
Independentemente dessa questão – a favor ou contra a diminuição da maioridade penal, acredito que se quisermos mudar o quadro que aqui está, se quisermos tratar a violência com justiça social é necessário em primeiro lugar que a sociedade, mídia e os políticos enfoquem e encarem com a mesma ênfase que estão dando aos menores envolvidos com crimes violentos, as centenas de homicídios que acontecem todos os dias contra crianças e jovens abaixo de 24 anos nas periferias das grandes cidades. Não somente homicídios violentos e onde o corpo literalmente padece, mas também os homicídios ( e não são poucos ) de sonhos; esperanças; oportunidades.... Quando se fecham as portas e possibilidades para essa população a violência impera atingindo toda a sociedade.
O que mais se vê são crianças, adolescentes e jovens usurpados de seus direitos: fora da escola; desempregados e sem qualificação profissional. No Brasil, infelizmente, muitos apresentam este perfil. Uma pesquisa do DIEESE (2006) sobre a ocupação de jovens nos mercados metropolitanos revela que a população jovem de 16 a 24 anos, embora represente 23,8% da população total e 25% da População Economicamente Ativa (PEA), apresenta taxas de desemprego mais altas que as verificadas entre os indivíduos de outras faixas etárias (45,5% dos jovens desempregados).
A falta de oportunidades, de políticas públicas eficientes que atendam a demanda dessa população e conseqüentemente, de vislumbre de mudança, empurra os jovens cada vez mais para a criminalidade. É preciso encarar essa questão com seriedade e compromisso e entre outras ações qualificar esses jovens para que possam estar aptos a concorrer e ocupar o mercado de trabalho formal cada vez mais competitivo.
Temos, portanto, muitos desafios para o futuro dos jovens e da população mais carente, tais como:
_ Investimento em políticas de juventude e para trabalhadores com mais de 40 anos, tendo em vista as taxas de desemprego nestas faixas etárias e a baixa qualificação desta mão-de-obra;
_ Investimento na elevação de escolaridade e qualificação profissional e técnica dos trabalhadores ocupados, visando à sua absorção em postos de trabalho mais qualificados e que ofereçam salários mais altos;
_ Maior articulação das políticas de educação e de formação profissional; etc.
Se realmente todos – sociedade civil; empresários; imprensa e políticos, encararmos essa realidade com seriedade, compromisso e sem hipocrisia, verdadeiramente ‘SAIREMOS DO BECO SEM SAÍDA” |