Efeitos biológicos causados pelo uso de telefones celulares
© 2008 Betania Bussinger

A tecnologia sempre nos parece algo relacionado apenas ao bem-estar, à modernidade e à simplificação de atos de nossa vida social. No entanto, a relação entre homens e "máquinas" pode ser geradora de efeitos biológicos nocivos, nem sempre conhecidos e dimensionados antes de sua utilização. Objeto de estudo científico, a telefonia celular, por expor o ser humano à radiação, produz efeitos biológicos, que vêm sendo alvo de pesquisas nacionais e internacionais publicadas em mais de quarenta e dois países, nos últimos quinze anos.

O objetivo das pesquisas é o de alertar as autoridades e a população brasileiras sobre os riscos da telefonia celular à saúde pública. A proposta dos pesquisadores é, como acontece em vários países da Europa, estimular órgãos reguladores do serviço no Brasil a reduzir, por conta própria, os valores limites para exposição à radiação, obedecendo ao chamado "Princípio da Precaução" (é o critério aplicado em circunstâncias de risco em potencial).

Este artigo pretende ainda informar à população sobre os riscos e os cuidados necessários à correta utilização dos aparelhos celulares.

É inquestionável, no entanto, que as comunicações móveis celulares marcaram profundamente o comportamento social no último século, e incorporaram-se de modo definitivo ao dia-a-dia de milhões de pessoas no mundo inteiro, que passaram a ficar imersas em ambientes cada vez mais servidos por radiações eletromagnéticas.


Eventualmente, esse tipo de radiação pode causar efeitos biológicos que são as respostas a um estímulo específico, como, por exemplo, a exposição do organismo, por longo período de tempo, às radiações provenientes das comunicações móveis celulares, que podem gerar mudanças por estressar o organismo, apesar de o corpo humano possuir seus mecanismos regulatórios para enfrentar esses tipos de agressão.

As chamadas radiações não ionizantes, ou seja, aquelas que não alteram os átomos, mas atingem moléculas e ligações químicas,podem provocar efeitos biológicos, classificados como térmicos, ou não térmicos.

- Os térmicos surgem diretamente do aquecimento dos tecidos, como resultado da absorção de parte da energia transportada pela onda eletromagnética.

- Os não térmicos não são provocados pelo calor, mas sim pela interação direta do campo eletromagnético com as moléculas que formam o tecido, quando suas partículas tentam se orientar com o campo elétrico de modo a minimizar sua energia potencial.

Embora os efeitos não térmicos estejam cientificamente comprovados, a legislação vigente no país só contempla os efeitos térmicos e de curta duração, o que significa que não existem valores limites para 24 hs de exposição emitida pelas antenas (Estações Rádio Base- ERB´s).

Considerando apenas os efeitos térmicos, os níveis de radiação aos quais as pessoas podem ser submetidas são recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e seguidos pelo Brasil, conforme orientação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Vários países e algumas cidades brasileiras como Porto Alegre- RS e Campinas-SP, obedecendo ao "Princípio da Precaução", fixam tais níveis de radiação muito abaixo daqueles preconizados pela OMS/ Anatel.

Mesmo potências mais baixas, ao penetrarem em nossos cérebros, podem causar efeitos prejudiciais ao organismo. Isto já foi demonstrado, repetidas vezes, em experiências com cobaias, com análises in vitro e por meio de pesquisas epidemiológicas. Essas pesquisas, entretanto, devem durar mais que cerca de oito a dez anos, tendo em vista os longos períodos de latência dos tumores cerebrais. Os resultados mostram um aumento de risco de desenvolvimento de diversos tipos de tumores cerebrais (como gliomas, meningiomas etc.).

Estatísticas internacionais comprovam os neurinomas acústicos, entre os usuários mais constantes por exemplo, de duas a três mil horas de uso, correspondendo a cerca de meia a uma hora por dia, durante seis ou mais anos, coincidindo com o lado da cabeça em que os celulares são usualmente operados.

Adiciona-se agora a isso uma enorme utilização de sistemas sem fio (tipo wireless, como WiFi, WiMax, Bluetooth etc.), que são certamente em baixo nível, mas, com longos tempos de exposição, também aumentam substancialmente os riscos à saúde.

Lamentavelmente, estamos todos expostos às conseqüências de uma tecnologia que está sendo largamente utilizada, antes mesmo de ter provado ser inócua à saúde.

Como reduzir os riscos dos efeitos biológicos causados pela exposição do aparelho celular?

  • Reduzir o tempo de conversação;
  • Durante a conversação, procurar utilizar o terminal móvel o mais afastado possível do
    cérebro;
  • Utilizar preferencialmente as facilidades de "viva voz" ou "fone de ouvido";
  • Utilizar sempre o terminal móvel o mais afastado possível do corpo.
  • Crianças não devem utilizar o serviço, na Europa a venda é proibida em alguns países para menores de 12 anos e em outros para menores de 16 anos.
  • Evitar utilização do terminal móvel em Hospitais, Clínicas, Escolas, Creches, Instituições Geriátricas e quaisquer outras que prestem serviços de radiologia. Existem várias pesquisas internacionais provando que o terminal móvel pode alterar os resultados dos exames (eletrocardiograma, eletroencefalograma, etc...);
  • Evitar utilizar o aparelho com outras finalidades, por exemplo: como despertador, colocando-o sob o travesseiro, expondo o cérebro durante todo o sono.

Comparando com a conhecida radiação Solar, que também é uma radiação não ionizante:

É de conhecimento da população que a exposição excessiva à radiação solar é cumulativa assim, gera efeitos biológicos danosos à derme e a epiderme do corpo humano.

Acontece que a radiação (forma de energia que se propaga) solar, faz parte do espectro de freqüência da radiação não ionizante, assim como a radiação emitida pelas microondas. Entre essa faixa de freqüências, encontra-se a telefonia móvel celular (aparelhos e antenas) que como toda a radiação não ionizante, tem efeitos cumulativos conforme dito anteriormente.

A diferença entre a exposição da radiação solar e a do sistema celular, é que se estamos dentro de casa e falamos ao celular, significa que estamos tendo recepção do sinal, consequentemente estamos expostos à radiação emitida pela telefonia móvel celular.

Quanto aos efeitos térmicos provocados pela radiação, citamos por exemplo, no que tange à saúde infanto juvenil, a OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, que divulgou orientação à população da Grã Bretanha desaconselhando a utilização de telefones móveis por menores de 16 anos. Ela defende um enfoque de precaução com relação ao uso dos telefones móveis. "Eu evitaria deixar crianças utilizar telefones móveis por horas todos os dias, porque nós não conhecemos o suficiente sobre os danos". Dra. Gro Harlem Brundtland, Diretora Geral da OMS, 1/7/2002 (Microwave News, vol. XXII, No. 4, July/August 2002, p. 8). A Dra. Gro Harlem Brundtland é Médica pós-graduada em Saúde Pública. Já foi primeira-ministra da Noruega.

A razão para essa recomendação é simples e se relaciona com os efeitos térmicos da radiação nos aparelhos de telefonia móvel. A partir da utilização dos aparelhos em período superior a SEIS MINUTOS passa a haver um aquecimento, de no mínimo 1ºC, das células no entorno do ouvido e da cabeça. Esse aquecimento se dá de dentro das células para fora. Como o cérebro em formação das crianças absorvem 70% mais a radiação do que o do adulto, recomenda-se cautela no uso do serviço principalmente por crianças e gestantes.

Portanto, deve-se evitar utilizar o aparelho próximo ao corpo afinal, o aparelho celular ainda não é uma extensão do corpo humano.

Este talvez seja um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade.

 

Betania Bussinger é doutoranda em Enga. (UFF/UFRGS), Mestre em Ciências, Pós-graduada em Engenheira de Segurança do Trabalho e Engenheira de Telecomunicações.

Este artigo foi divulgado originalmente na Revista INCA no. 6 e publicado pela Callmunity com autorização da autora.

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