Papa João Paulo II: Lições de Liderança
© 2005 Sharif Khan

 

Os heróis são os rebeldes com uma causa.
Rebeldes porque eles desafiam os modos tradicionais
de pensar e recusam-se a seguir o rebanho.
Eles têm uma causa, uma visão, que é maior que vida".
--- Sharif Khan
De menino filho de um oficial reformado do exército numa pequena cidade polonesa para tornar-se o Papa; de uma vida dura na Polônia ocupada pelos Nazistas - sua mãe morreu de falência dos rins e de parada cardíaca, um irmão mais velho, morrreu de escarlatina - para tornar-se o possivelmente o "Homem do Século". O que fez com que um candidato improvável para a chefia da Igreja Católica Romana alçasse tal proeminência tão rapidamente?
Que lições de liderança podemos aprender deste líder espiritual global, que assim mudou o mundo? Aqui vamos traçar um breve registro de pontos exemplares da liderança de Karol Josef Wojtyla:

Conhecimento

1958: O Papa Pio XII nomeia Wojtyla para Bispo Auxiliar de Cracóvia.
Antes deste tempo, Wojtyla era professor de Ética e obteve dois graus de doutorado; ele tinha estudado teologia clandestinamente durante a opressiva ocupação nazista da Polônia.

Lição de liderança:
Os líderes são leitores. O conhecimento especializado é a chave da liderança aliada com conhecimentos gerais. Enquanto Wojtyla concluía dois doutorados no seu campo, ele também estudou filosofia e literatura; também era dramaturgo e poeta. Se você reservasse uma hora por dia para ler sobre assuntos relacionados ao seu campo de atividade e aplicasse o conhecimento obtido, dentro de um período de cinco anos você se tornaria um 'perito' na sua especialidade. As pessoas têm fome e sede de um líder com conhecimento e experiência.

No caso de Wojtyla, ele dedicou seu tempo para obter conhecimento do mundo, de se mesmo e muito além. Como capelão dos estudantes da Universidade de Cracóvia, ele costumava ir a acampamentos e andar de caiaque e dava aconselhando aos estudantes. Nestas excursões, ele reservava normalmente uma hora ou mais para ficar só e refletir, ler e rezar. Estes momentos de solidão davam-lhe uma forte bússola interna e o auto-conhecimento requerido de todos os grandes líderes.

Humildade

1978: O Papa João Paulo II foi eleito e torna-se o 264º papa e primeiro papa não-italiano em 456 anos:
Rejeitou a coroação papal formal em troca de uma simples cerimônia de inauguração do papado e escolheu não usar o plural real "NÓS" ao referir-se a ele mesmo como "EU."

Wojtyla não se impressionou com as condecorações e símbolos do poder e deixou isto claro desde o dia em que foi eleito Papa. Ele tinha um modo muito simples, claro e honesto de comunicar como as pessoas eram estimadas por ele. Ele exemplificou o papel do líder-servidor incorporando um dos títulos do Papa: Servus Servorum Dei (O Servo dos Servos de Deus).

Lição de liderança:
Os líderes são humildes. Nós podemos aprender com o exemplo de Wojtyla não nos isolando no escritório inacessível ou torre de marfim a cada promoção sucessiva, escondendo-nos atrás de portas fechadas e um mar de títulos extravagantes, diplomas, prêmios, certificados e recortes de jornais. Como Wojtyla, nós podemos nos tornar disponíveis às pessoas com portas abertas, buscando entender e encorajar o diálogo. A liderança exercida caminhando ao redor e falando com pessoas e escutando suas necessidades gera respeito e confiança.

Coração

1979: João Paulo II visita sua Pátria, a Polônia:
Pela primeira vez como Papa e fala com seus compatriotas, inspirando o Solidariedade, primeiro movimento independente de trabalhadores no bloco soviético.

Arriscando sua vida contra o regime comunista totalitário da Polônia, Wojtyla voltou à sua terra e não falou no tom oficial. típico de autoridades visitantes. Ele falou a partir do seu coração, do seu intestino, de alma-para-alma - no seu próprio idioma. Os poloneses se viram refletidos nele; ele os encorajou a não rastejar como animais mas a andarem de cabeça erguida e "sem medo". A multidão despertou-se e uma chama de rebelião e de contra-revolução acendeu-se na consciência coletiva dos poloneses, refletindo-se no movimento Solidariedade para a independência e liberdade que posteriormente levaram à derrubada do regime comunista.

Lição de liderança:
Os líderes têm coração. Intelecto não é o bastante; a cabeça e o coração têm que se integrar. Se você quer conquistar as pessoas, baixe a guarda e fale a partir do coração. O líder que sempre fala com o coração na maioria das vezes vence os argumentos dissonantes.

Perdão

1983: Reúne-se com o assassino Ali Agca na prisão.
Apenas dois anos após a tentativa de seu assassinato pelo pistoleiro, Mehmet Ali Agca, e vários meses de recuperação dolorosa, o Papa visitou Agca na prisão e ofereceu seu perdão. (Muito depois, em 2000, o governo italiano concedeu clemência para Agca, a pedido do Papa).

Lição de liderança:
Os líderes sempre estão dispostos a perdoar. Todos nós somos seres humanos falíveis e cometemos erros. A marca de um verdadeiro líder é a sua disposição para perdoar. Esta também é uma inteligente estratégia de liderança a longo prazo. Da mesma forma que não há justificativa para se manter alguém que nunca aprende com seus próprios erros, o chefe, que freqüentemente tem o hábito de despedir um empregado por cometer um grande erro, está equivocado por agir assim. Afinal de contas, sempre há o risco de que a próxima pessoa contratada possa cometer potencialmente o mesmo engano desastroso. Mas ao oferecer perdão à pessoa que erra, ela provávelmente não vai repetir o mesmo erro e permanecerá leal a você.

Responsabilidade

2000: Oferece um dia de perdão para os pecados cometidos pelos seguidores da Igreja Católica durante os séculos; visita Israel e rende homenagem às vítimas do Holocausto.
Wojtyla foi o primeiro papa a visitar o campo de concentração de Auschwitz na Polônia, em 1979, e depois, em 2000, ele visitou o Yad Vashem de Jerusalémem em memória dos seis milhões de judeus que morreram no Holocausto, rezando pela reconciliação entre cristãos e judeus e desculpando-se do pecado do anti-semitismo por cristãos.
O dia em que o então presidente norte-americano, John F. Kennedy, assumiu total responsabilidade pelo fiasco da Baía dos Porcos, foi o dia em que ele se tornou
líder. O dia em que Wojtyla desculpou-se e assumiu responsabilidade sobre os pecados do anti-semitismo cometidos por cristãos, foi o dia em que ele se tornou um líder mundial verdadeiramente respeitado.

Lição de liderança:
Os líderes assumem responsabilidade completa sobre as suas organizações. Culpar e reclamar são as marcas de um perdedor. Nós podemos dar desculpas ou nós podemos avançar - mas certamente não podemos tomar ambas atitudes. Para ser um líder, você tem que assumir responsabilidade completa das suas ações, do seu time e, no final das contas, de toda a organização ou da causa que você conduz.

Liderança incomum

1982 - 2003: Ele recebe Arafat, o líder da OLP; Visita Gorbachev como o primeiro papa a reunir-se com um Chefe do Kremlin; visita Cuba e encontra-se com Fidel Castro; torna-se o primeiro papa da história a entrar numa mesquita:
A despeito das críticas de todos os lados a respeito dos temas controversos que apoiou, Wojtyla não era uma pessoa de desistir. Ele mantinha suas posições a respeito do que acreditava e tinha coragem de demonstrar suas convicções. Como um líder, ele era duro mas flexível. Sua flexibilidade permitiu que conhecesse líderes mundiais famosos e desconhecidos e conduzir assuntos delicados que o fizeram impopular em certos círculos. Mas ele também teve no seu íntimo a rigidez do aço que deu-lhe resistência para demolir paredes e patrocinar reconciliações. Foi como ´papa e cabeça da Igreja Católica Romana que ele reconheceu o seu papel de unificar a Igreja, servindo como um apóstolo da justiça e da paz. Ele manteve-se firme e nunca vascilou, mesmo quando corria o risco de isolamento.

Lição de liderança:
Os líderes não se afastam daquilo que acreditam. A liderança não é uma competição em busca de popularidade. Mantenha aquilo que você acredita. Seja forte e seja firme. Uma mente dividida é fraca; uma mente íntegra, clara e com uma visão singular é poderosa além da medida.

Legado: Rebelde com uma causa

1920 - 2005: Um legado de liderança.
O Papa João Paulo II era um rebelde com uma causa. Um campeão dos valores humanos e da dignidade, um lutador pela liberdade, um portador da tocha da justiça social, ele deixou um legado duradouro de liderança e exemplo moral, que todo o mundo pode seguir.
Questionado uma vez, se ele temia a retaliação de governos, respondeu (de acordo com biógrafo George Weigel): "Eu não tenho medo deles. Eles é que têm medo de mim." Realmente, ele retransmitiu uma mensagem para o mundo que ecoará pela eternidade: "Não tenha nenhum medo! "
 
Sharif Khan é um Treinamdor Mestre Certificado em Trabalho em Equipe, Analista Certificado de comportamento profissional e Especialista de Desempenho de Humano. Ele também é o co-fundador da Vision to Venture, LLC, uma empresa voltada para o coaching de executivos, consultoria e treinamento, visando promover uma abordagem interpessoal e baseada em soluções para o alto desempenho de executivos, gerentes, profissionais e times de trabalho. Visite seu site: www.VisionToVenture.com.

© 2005 Adolfo Breder ([email protected]) da versão do texto original em inglês:
- Leadership Lessons from Pope John Paul II

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