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Reflexões de um Psicólogo Organizacional:
Preconceito no Processos Seletivos e Cotas Étnicas

© 2005 Guilherme de Castro Françoso - São Paulo (SP)

Como Headhunter e Consultor de Recursos Humanos, tenho a necessidade de me manter atualizado quanto ao que acontece no mercado de trabalho. Uma das formas que encontrei, além de assinar newsletters e publicações periódicas, foi exercitar o meu networking e me inscrever nos grupos virtuais de Recursos Humanos, tão comuns em serviços como o Yahoo Grupos, por exemplo.


Em uma de minhas andanças pelas mensagens dos grupos, me deparei com o e-mail de uma colega no qual ela anunciava uma determinada oportunidade. Dentre os quesitos para aquela posição, ela informava a faixa etária requerida para se candidatar, o que evidentemente gerou protestos e questionamentos contra a profissional em questão. Não quero aqui, entrar no contexto ético do episódio relatado, mas sim chamar a atenção para um problema que atinge a todos nós: O preconceito nos processos seletivos, sejam eles profissionais ou acadêmicos.

Muitas vezes, principalmente ao atuar como Consultor independente, ou vinculado a uma consultoria de seleção, os consultores e headhunters são obrigados a trabalhar em cima de um perfil pré-determinado, que geralmente inclui idade, formação (incluindo o nome das instituições), sexo, entre outros “pré - requisitos”.

Não sou pretensioso de afirmar que não tenho de lidar com estas imposições nos meus clientes, muito pelo contrário, elas ocorrem da mesma maneira que com meus colegas. E adivinhem! Pego-me atendendo as demandas colocadas simplesmente por uma questão de sobrevivência. Entretanto, sempre faço a minha parte, ou seja, coloco os pontos relevantes deste ou daquele profissional de forma clara e embasada em uma técnica reconhecidamente assertiva: ” A seleção por Competências”.

Um bom exemplo se deu quando surgiu uma oportunidade em um dos meus clientes, uma multinacional para a qual conduzi diversos processos seletivos. Estávamos em busca de um profissional que seria responsável pelos canais alternativos e pelas parcerias comos dealers da área comercial. Como finalistas, apresentei três profissionais dos quais apenas um vinha da concorrência e tinha exatamente a experiência necessária. Os outros dois, vinham de empresas completamente distintas ao segmento do meu cliente, mas a avaliação por competências mostrava que a profissional com menor probabilidade em ocupar a posição, pois vinha de uma pequena empresa de turismo, e era considerada “junior demais” pelo gestor da área, era a pessoa que reunia as melhores condições para assumir aquele desafio. O gestor optou por confiar em minha avaliação e ela foi contratada. Apenas dois meses depois do seu início nas atividades do cargo, a profissional já ocupava o topo do ranking de vendas do canal.

Neste caso, foi fundamental documentar e apontar os diferenciais dela em relação à dos outros dois profissionais, fazendo uso de uma ferramenta bastante assertiva: A Seleção por Competências. Seguramente, se não fosse a minha intervenção, ela teria sido eliminada do processo seletivo por puro preconceito, afinal, ela não reunia em sua trajetória profissional, a experiência na venda dos produtos e serviços da empresa.

Vou mais fundo ainda, quando o assunto é formação, a coisa se agrava consideravelmente. A demanda por profissionais formados em instituições ditas de “primeira linha”, é notadamente superior à por formados em outras instituições.

Como profissional de Recursos Humanos, nos meus processos seletivos já lidei com candidatos, estudantes ou graduados pelas ditas "faculdades de primeira linha" (acreditem, algumas não tem suas grades revisadas há muito tempo), que mal sabiam somar, ou se expressar corretamente usando o próprio idioma de uma maneira adequada à situação de entrevista. Um festival de gírias e termos pouco formais. Por outro lado, não é raro me deparar com profissionais formados na faculdade XYZ (aquela da esquina, com meia dúzia de alunos e que ainda está em processo de reconhecimento pelo MEC), que teve muito mais garra, energia e comprometimento durante as etapas de avaliação.

Na minha opinião, isto acontece porque esta pessoa aprendeu a se virar sem contar com os recursos da sua família. Este profissional teve que, muitas vezes, subsidiar seus próprios estudos e procurar soluções mais acessíveis à sua realidade. Pode até não ter o nível de conhecimento e o preparo técnico de alguém que se formou pela faculdade de "primeira linha" tem, mas tem um diferencial único: O brilho nos olhos e a experiência de vida! Não é isso que as melhores empresas buscam? Criatividade para encontrar soluções, habilidade para trabalhar sob pressão, perseverança e jogo de cintura?

Não quero aqui, de maneira nenhuma, generalizar o comportamento de quem teve uma situação financeira melhor ou pior. Como psicólogo, sei que muito desse ou daquele comportamento é "herdado" do contexto familiar, bem como introjetado do meio em que cresceu o indivíduo, que acaba por exercer os modelos que tem disponíveis.

Apesar disto, é comum ver profissionais desistirem dos processos seletivos por não atender este ou aquele quesito do perfil. Para estes, eu digo que é preciso parar com o pensamento derrotista "não tenho chance contra essa ou aquela pessoa porque ela se formou em uma faculdade melhor do que a minha". É natural que nas faculdades públicas, e é aqui que vemos a verdadeira ironia da situação, as pessoas tenham um desempenho melhor. Elas, além de recursos, têm condições de dedicar-se na área escolhida. Muitas vezes, vieram desse ou daquele curso preparatório renomado, porque seus familiares pagaram mensalmente quase o valor de uma faculdade, para que seus filhos aprendam novamente o que já deveriam ter condição de responder. Boa parte dos alunos dessas instituições vem de famílias com condições financeiras razoáveis.

Tendo em vista que a população de baixa renda no Brasil é composta predominantemente de pessoas de descendência negra, o Governo propôs a criação de cotas étnicas para o ensino superior, tendo como base o dado de que a população de descendência negra corresponde a apenas 23,1% dos alunos do ensino superior. Quando se chega a pós-graduação este quadro é bastante alterado: a participação de afro-descendentes e pardos é de 17,6%, segundo os dados do IBGE tabulados pelo INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas. Não é essa a solução. O problema se resolverá quando os pais se conscientizarem de que têm que cobrar seus filhos por resultados e dividir a responsabilidade da educação com os professores. A educação deve sobrepor a estabilidade econômica. Para que existem as associações de pais e mestres senão para isso? Precisamos deixar de perder tempo dizendo para todos que a culpa é do governo pela qualidade de ensino ruim nas escolas públicas (tá bom, vá lá, não reprovar alunos até a oitava série do primeiro grau foi um erro!) e começar a procurar soluções mais efetivas para isso.

Meus filhos provavelmente não irão para escolas privadas renomadas durante sua vida escolar, mas serão exigidos por mim como se nelas estivessem. Sei que isso fará a diferença em futuros processos seletivos (incluindo o vestibular), porque eles aprenderão que não importa o nome da instituição em que estudaram, importa sim o proveito que a pessoa tira das informações, a orientação que recebe na sua célula social e qual o destino que ela dá para seus esforços.

Uma vez isso feito, não haverá a necessidade (discriminatória inclusive) de criar programas de cotas raciais, já que ao favorecer os negros de baixa renda, desclassificamos as outras etnias, também de baixa renda. Todos teríam mais ou menos a mesma condição de concorrer às vagas em "faculdades de primeira linha". Me parece uma atitude hipócrita em um país em que mais de sessenta por cento da população é descendente de negros e índios. Me pergunto se haveriam vagas suficientes para todos nós.

Em entrevista ao Correio Brasiliense em 27 de Junho de 2005, o (então) ministro da Educação, Tarso Genro, admite que o Brasil, inclusive o atual governo, não prioriza a educação como deveria, mas garante que ele e o presidente Lula trabalham para conseguir tratar a instrução dos brasileiros como política de Estado. “Se vamos conseguir isso ou não é muito cedo para dizer, porque depende do desenvolvimento econômico, de decisões políticas e da idéia de que recursos públicos devem priorizar educação”. De acordo com o ministro, não existe no governo quem diga que a educação não é prioritária. “Embora algumas pessoas digam que a educação é prioritária, na hora de objetivar essa importância não o fazem”, provoca. “Eu defendo que a educação deve se sobrepor inclusive ao fetiche da estabilidade econômica”. Existe um esboço para uma lei ordinária que prevê a obrigatoriedade de as universidades usarem como parte da seleção para a entrada dos alunos no ensino superior o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). É um bom começo, mas não basta.

Se é para criarmos cotas no nosso ensino público, que sejam cotas baseadas no perfil sócio-econômico e não na etnia das pessoas. Cotas que possibilitem a locomoção e a estadia, se necessário, nas cidades onde o estudante esteja para aqueles alunos com limitações financeiras, que forneçam material escolar e livros didáticos (já viram quanto custam os livros no Brasil? Um absurdo!) gratuitamente, e assim por diante. É assim que vamos mudar nossa realidade, quando pararmos de nos lamentar e arregaçarmos as mangas, colocando na frente de nossa cor, ou pseudo-descendência, a nossa vontade de chegar lá.

 
Guilherme de Castro Françoso ([email protected]) é Headhunter, Idealizador e Moderador do Grupo Gestão por Competências.