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Crise ou Oportunidade -
Uma questão de entendimento

© 2009 Geraldo Ferreira De Araujo Filho

Não há história consciente sem a consciência da história. - Nelson Mello e Souza

2008, e não 2000, é o ano que, efetivamente, entra para a História como o marco do transpor dos portais do terceiro milênio da era cristã.

É a partir de então que começam as profundas e irreversíveis transformações que ao longo dos últimos dez séculos decorridos vinham sendo aguardadas com um misto de esperança, descrença e, tanto em uma hipótese quanto em outra - com maior ou menor intensidade - envoltas por um ancestral temor: “de que forma a Terra acabará na virada do milênio, em água ou em fogo?”


De toda sorte chegamos, agora, ao marco zero de um porvir inédito. Há em curso uma fortíssima sucessão de radicais mudanças de conceitos, parâmetros e, fundamentalmente, de percepções filosóficas. Há um perfume de inovação se espalhando com incrível rapidez por todo o orbe e que, já há algum tempo, é parte integrante do quotidiano dos que possuem olfato mais apurado.

Alvin Toffler, Steve Jobs, Domenico De Masi, Peter Drucker, Francisco Gomes de Matos, Pietro Ubaldi, William Gates, Leif Edvinsson, Pierre Lévy e Nelson Mello e Sousa, são alguns desses incontestes perfumistas que, cada qual com sua fórmula aromática específica, desde há muito vêm borrifando a atmosfera planetária, tornando-a mais salubre.

Um mundo muito diferente de tudo que já foi visto começa a emergir das cinzas de uma civilização que contabiliza registros de mais de seis mil anos de equívocos e que, agora, em seu estertor derradeiro, esgota-se em si mesma, vítima da incompreensão de que a vaidade é o mais sedutor e letal de todos os pecados.

Vamos então a um retrospecto na busca de determinados acontecimentos que marcaram o último século desse período de vários e vários milênios e que, mesmo esvaindo os últimos grãos de suas areias pela incorruptível ampulheta do Tempo - afinal ele é o único, dentre todas as demais dimensões, que não nos faz concessões - bem ou mal sedimentou, não mais agora importando se através de inúmeros desacertos, terreno propício para a construção de um futuro que se posicionará de maneira muito melhor estruturada, relativamente aos atuais padrões sócio-morais planetários.

E isso já está acontecendo. Ou seja, finalmente, chegamos ao começo.

Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro, porque, afinal, a real tragédia da vida é quando um homem tem medo da luz. - Platão

No segundo semestre de 2008 aflorou a maior crise econômico-financeira de toda a história escrita da humanidade. E isso não foi conseqüência de uma fortuitidade pontual, alvitre de alguma praga bíblica ou, simplesmente, efeito de uma imprevisível mudança de humor de algum dos deuses dos olimpos que se espalham pelos credos de todas as tribos do planeta.

Não, não foi isso não.

Ela é resultado de uma equação perversa, cuidadosamente engendrada e aplicada ao longo de mais de 50 anos pelos países do dito primeiro mundo, que, como alunos aplicados, de corpo e alma - mais de alma, até - engajaram seus talentos a serviço desse academicismo sinistro, exportando-o com royalties - vale a ressalva. Ou seja, América do Norte, União Européia e Japão são os responsáveis diretos por esse crash sem precedentes.

Porém, e acredite quem puder, essa convulsão é muitíssima oportuna e, definitivamente, saneadora de vícios arraigados em caducos entendimentos ancestrais posto que, concomitantemente, transmuda-se em clareadora dos caminhos novos que, para os mais antenados com a modernidade, nitidamente, já vêm sendo pavimentados pela argamassa de uma percepção soberana, exclusivamente voltada para a valorização das potencialidades morais do Homem.

E assim sendo, tudo o mais que dela advirá, e muito mais breve do que se possa presumir, será mera conseqüência.

Os problemas que o mundo de hoje enfrenta, não são suscetíveis de uma solução militarizada. - John Fitzgerald Kennedy

William S. Cohen, ex-secretário de defesa dos Estados Unidos da América no governo de Bill Clinton, publicou em 2004 um romance cujo título em português é “Os Conspiradores”. Nele, textualmente, informa que a verba anual da defesa, a maior dentre todas as demais do orçamento americano, gira em torno de 500 bilhões de dólares anuais.

A Casa Branca, em fevereiro de 2008, confirmava: “Do total recorde de 3.1 trilhões de dólares solicitado para o próximo ano orçamentário - out/2008 - set/2009 - o Pentágono receberá 515 bilhões de dólares para suas despesas comuns, o que representa um aumento de 7,5% em relação ao orçamento de 2008 e um aumento de quase 74% se considerada a evolução de 2001 para cá”.

Além da situação no Iraque, a Casa Branca inscreveu no orçamento regular do Pentágono 20,5 bilhões de dólares para financiar o aumento do tamanho do exército e do corpo dos marines nos cinco próximos anos. Assim, os efetivos do exército serão aumentados para 547.000 militares até 2010 e os dos marines passarão a 202.000. Essa providência agasalhou-se na alegação de que “não há como responder a eventuais ameaças em outras partes do mundo”.

Isso nada mais significa que a auto-proclamada nação-xerife avocando, uma vez mais, a responsabilidade de manter a ordem no resto do mundo. Ou melhor, o seu personalíssimo entendimento de ordem.

De toda maneira, vamos aguardar pelas ações concretas do recém eleito presidente democrata Barack Obama, que sucede ao republicano George Bush. De nossa parte, achamos que o novo presidente irá fingir-se de morto em relação ao assunto. Clinton, por exemplo, ficou 8 anos e, também, achou conveniente não se meter com a ditadura militar americana.

Já o orçamento da OTAN gira em torno de US$ 850 bilhões por ano. A Organização do Tratado do Atlântico Norte, criada em 1949 para defender a Europa de um hipotético ataque soviético, além de já ter dado assistência logística às tropas da União Africana que tentavam “pacificar” a província sudanesa de Darfur e, recentemente dispor de, pelo menos, 43 mil solados combatendo no Afeganistão (a Alemanha rejeitou um pedido de Washington para que enviasse mais tropas), em 1990 travava uma guerra dentro da própria comunidade européia, contra a Sérvia.

Ou seja, América do Norte e União Européia respondem, hoje, por algo em torno de 75% do gasto mundial com armamentos.

Na opinião de Paul Ingram, do Conselho Anglo-Norte-americano de Informação de Segurança, “seria mais produtivo se os esforços para levar estabilidade a regiões voláteis do mundo fossem canalizadas através de ferramentas civis como a diplomacia e a ajuda para o desenvolvimento”.

“Mas o problema é que, proveniente das “nações guerreiras” - Estados Unidos, França e Grã-Bretanha - há uma forte pressão para aumentar o gasto de defesa na Europa, posto que estão muito mais preocupados com a capacidade militar do que, propriamente, com a segurança. Os países europeus se equivocam ao se decidirem imitar os Estados Unidos”, complementa Ingram.

Já a militarização do Japão é restringida pelo Artigo 9º de sua Constituição, no qual renuncia ao direito de declarar guerra ou ao uso de força como meios para a resolução de disputas internacionais. De toda forma, sua despesa militar é a 4ª maior do mundo, ajustada em um orçamento de pouco menos de 50 bilhões de dólares.

Mas na mesma medida em que a Alemanha parece ter-se auto-vacinado de suas aventuras militaristas no século passado, o Japão, contrariamente, ensaia alguns sinais de querer introduzir alterações no texto constitucional redigido por Mac Arthur em 1946, que ditou uma postura eminentemente pacifista.

Não busque por lucros desonestos. Lucros desonestos sempre dão prejuízos. - Hesíodo

A crise de 1929 foi resultado direto de uma superprodução industrial, ou seja, as empresas começaram a produzir acima da capacidade de absorção do mercado. Isto porque a precificação dos produtos foi irreal, tendo em vista que os salários não haviam evoluído de forma a garantir o escoamento daquela abundância.

A máxima preferida dos maus empreendedores, a lei do “ganhar, ganhar”, estava em um de seus auges históricos. Mesmo que Henry Ford, façamo-lhe justiça, anos e anos antes houvesse entendido e colocado em prática que o “ganhar sem repartir”, desde o tempo dos sumérios, registre-se, nunca funcionou.

Como conseqüência direta dessa “esperteza” - muito trabalho X precária remuneração - alguns negócios principiaram a colapsar devido à morosidade no giro do capital e as concordatas, falências e demissões começaram a fazer parte de um invariável e repetitivo cardápio, acelerando o ciclo em efeito cascata e gerando um empobrecimento populacional sem precedentes.

Os efeitos da “Grande Depressão” foram sentidos em quase todo o mundo. Porém, Alemanha, França, Itália, Inglaterra, Austrália e Canadá os vivenciaram com mais intensidade.

Na contramão da crise, no entanto, em países pouco industrializados como Argentina e Brasil, por exemplo, esse evento veio carimbado pelos dois símbolos do ideograma chinês para "crise“: "perigo” e "oportunidade".

Foi justamente nessa quadratura que ambas as nações iniciaram a aceleração dos seus respectivos processos de industrialização.

O segredo não é correr atrás das borboletas, mas cuidar do jardim a fim de que elas venham até você. - Mário Quintana

Em 1933, Franklin Delano Roosevelt, 32º presidente americano, que governou a América por quatro mandatos consecutivos, morrendo em abril de 1945 em plena vigência do último, lançou o New Deal, pacote de medidas econômicas que, em 1936, foram racionalizadas por Keynes em obra clássica.

O pacote econômico ajudou a minimizar a crise e os países atingidos iniciaram lentos e graduais processos de recuperação. Todavia, é importantíssimo que se assimile a cronologia: já eram passados quatro anos desde sua explosão em 1929.

Aqui pelo Brasil, os estímulos a algumas áreas, especialmente da indústria extrativa, da agroindústria, da metalurgia e da indústria de cimento foram expressivos. Em fevereiro de 1931 estabeleceu-se a obrigatoriedade da adição de álcool-motor à gasolina importada e em março foi proibida, por um prazo de três anos, a importação de máquinas destinadas a indústrias já instaladas no país e cuja produção fosse considerada excessiva.

Em junho do mesmo ano o governo autorizou o Lóide Brasileiro e a Estrada de Ferro Central do Brasil a comprarem toda a produção das companhias nacionais de mineração de carvão, determinando ainda que os importadores adquirissem no mercado nacional pelo menos 10% do que pretendessem negociar.

Em 1933, a produção industrial - que se destinava em sua quase totalidade ao mercado interno - já havia recuperado o nível de 1929 e o surgimento do algodão como segundo principal produto de exportação viria reduzir os efeitos da crise cafeeira sobre o balanço de pagamentos.

Vale a ressalva: a crise do café começou, na verdade, em 1920, e deveu-se a um ininterrupto e descontrolado aumento da safra. Para um consumo mundial de 22 milhões de sacas, o Brasil produzia vinte e um. Assim sendo, em 1929 os fazendeiros ainda estavam exportando a safra de 27.

Em Outubro de 1929 - o mês do crash em Wall Street- o Herald Tribune informava que 2/3 do café consumido no mundo inteiro era produzido em São Paulo e que, sozinho, representava 3/4 as exportações brasileiras. Ou seja, o café brasileiro nunca esteve a reboque do contexto daquela derrocada americana. Aconteceu, meramente, por falha nossa. Única e exclusivamente.

Foi também nesse período que se inaugurou a política do "pacto social", ou seja, da colaboração entre capital e trabalho através da mediação do Estado, lançando as bases da legislação que posteriormente seria agrupada na CLT - Consolidação das Leis do Trabalho, em 1943.

Entre as principais iniciativas tomadas destacaram-se aquelas referentes à organização sindical e ao reconhecimento de várias reivindicações históricas do movimento operário anteriores à década de 30.

O New Deal tupiniquim portanto, foi “antecedente ao original americano” de 1933 e funcionou rapidamente, evitando que a crise chegasse com maior intensidade: tsunami lá, marola aqui.

invariavelmente, os Estados Unidos costumam fazer a coisa certa depois de exaurirem todas as demais alternativas. - Winston Churchill

Na América, e apesar de todos os programas governamentais implementados, em 1940 cerca de 15% da força de trabalho continuava desempregada. Ou seja, um ano após o início do 2º grande conflito armado europeu do século passado.

Em dezembro de 1941 os japoneses, burramente, atacam Pearl Harbor e forçam a entrada dos Estados Unidos na guerra. E a partir de então, o Terceiro Eixo - Alemanha, Itália e Japão - inicia a desconstrução do sonhado “império de 1000 anos”.

Economicamente falando, a entrada da América na guerra foi extremamente interessante: a produção industrial cresceu drasticamente e as taxas de desemprego despencaram. Ou seja, extinguiram-se os efeitos da “Grande Depressão” de 1929.

Perto do final dos combates, em julho de 1944, foi subscrito pelos 45 países aliados o acordo de Bretton Woods com o objetivo reger a política econômica mundial do pós-guerra. Em linhas gerais, definia que as moedas dos países membros passariam a estar vinculadas ao dólar, oscilando numa estreita banda de mais ou menos 1% e, por sua vez, a moeda norte-americana estaria atrelada ao ouro, este a 35 dólares americanos a onça troy, medida equivalente a 31,104g.

Para que tudo funcionasse sem grandes sobressaltos foram criadas duas entidades de supervisão: o FMI - Fundo Monetário Internacional - e o Banco Mundial. Após duas bombas atômicas lançadas sobre o Japão e mais algumas escaramuças em Berlim e Roma foi assinada a rendição do Terceiro Eixo. E ao final da 2ª grande guerra, apenas 1% da força de trabalho norte-americana estava desempregada.

Só existe uma coisa mais dolorosa do que aprender com a experiência: não aprender com a experiência. - Archibald Mcleish

Durante vinte anos o acordo de Bretton Woods funcionou como previsto. Na segunda metade da década de 60, no entanto, começa a degradação das contas internas norte-americanas e o déficit orçamentário é financiado através da emissão de dólares não lastreados. Resultado: a quantidade de moeda americana que abastecia o mercado excedeu o estoque de ouro armazenado em Fort Knox e, em 1971, para cada 70 dólares circulantes existia por lá apenas 12 em ouro.

Isso passou a gerar sérios problemas para os países membros do acordo pois aquelas emissões também os obrigavam a emitirem a fim de manterem a proporcionalidade do cambio fixo e, conseqüentemente, criavam pressões inflacionárias em suas próprias economias.

Charles de Gaulle, então, exige em ouro o que a França possui armazenado em dólares. A América rejeita a exigência cometendo um nítido ato de bancarrota. A situação fica insustentável e em agosto de 1971 Richard Nixon, unilateralmente, anuncia o fim do acordo de Bretton Woods e extingue o padrão ouro ou seja, a obrigatoriedade da conversibilidade do dólar em ouro.

Os mercados mundiais fecham durante uma semana e quando reabrem o dólar está desvalorizado e os principais bancos centrais intervêm em suas economias para controlarem a situação.

Em Dezembro, é estabelecido o Smithsonian Agreement com um G-10 de onze - Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Holanda, Suécia, Suíça, Reino Unido e América - fixando as novas referências cambiais.

A essa altura o dólar já havia desvalorizado algo em torno de 10%. E a pressão sobre a desvalorização continuou até fevereiro de 1972 quando, novamente, os mercados foram encerrados, reabrindo apenas em Março de 1973 com taxas de cambio livres.
A deterioração da economia americana a partir de meados de 1960, prendia-se ao fato de estarem engajados em duas controversas e dispendiosas frentes de guerra: a do Vietnam, beligerância cara no que tange ao aspecto material - e caríssima em relação ao moral - e a da conquista do espaço, onde gastaram rios de dinheiro para se manterem a frente dos russos.

E nesse particular, de concreto mesmo, a romântica constatação, “la terre est bleue”, e muito, mas muito, mas muito dinheiro mesmo investido nisso. A bilheteria desse pula-pula no recém batizado “Mar da Tranqüilidade”, no entanto, não tardaria a apresentar o custo dos ingressos. E a maré começou a ficar convulsa.

Entre o fim da 2ª Guerra e o final dos anos 60, não obstante a forte desvalorização da moeda americana, o ouro continuava a 35 dólares a onça troy e o preço do barril de petróleo subia menos de 2% a.a., tendo passado de 2 para 3 dólares.

Mas o Smithsonian Agreement, que embutiu a flutuação do câmbio, fez com que em 1973 o ouro chegasse a valer 120 dólares. Ou seja, para comprar uma onça troy eram necessários 34 barris, uma desvalorização em torno de 70%.

Havia um acordo com a OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo - de que todas as transações deveriam ser feitas em dólares americanos. E como a América já podia imprimir seu dinheiro sem armazenar o equivalente em ouro, além de conseguir manter, mesmo que artificialmente, sua moeda valorizada, literalmente “comprava petróleo de graça”.

E como Milton Friedman defende a tese de que não existe almoço grátis...

Quem gosta de abismos deve aprender a criar asas. - Nuit

Em 1973 o Rei Faissal, da Arábia Saudita, avisou os Estados Unidos que caso a política para o Oriente Médio não fosse alterada o petróleo seria utilizado como arma. A resposta americana foi a de estimular a 4ª guerra Árabe-Israelense. A represália veio em 1974: a OPEP impôs um aumento de preço e o barril mais que dobrou, passando de 4,31 para 10,11 dólares.

Em 79, com a deposição do Xá do Irã, é criada uma república islâmica comandada pelo Aiatolá Khomeini e em novembro quinhentos estudantes extremistas tomam a embaixada norte-americana em Teerã fazendo 66 reféns durante 444 dias. Os Estados Unidos saem humilhados da crise.
O Irã, que com mais de 5 milhões de barris dia respondia por 18% da produção OPEP, baixou-a para 10% e, nos 2 anos seguintes, para 6%. Posteriormente nivelou em 13%. A revolução iraniana fez disparar novamente o preço do petróleo e o barril ultrapassou os 35 dólares no início de 1981.

Na linha de retaliação, o Iraque começa a vender petróleo em euros, quebrando a hegemonia dos dólares americanos no setor petrolífero. Após a segunda invasão daquele país, a moeda de pagamento foi revertida para dólar americano.

Opondo-se a intervenção americana, o Irã contra-ataca e anuncia que seu petróleo poderá ser pago com qualquer moeda, menos com dólares americanos. Por isso, vale o parêntese, a repentina histeria em relação à capacidade do Irã em fabricar sua própria bomba. Nada a ver. É meramente pelo fato daquele país mulçumano haver retirado a escada, deixando a economia americana pendurada na lâmpada. E lâmpada acesa esquenta, registre-se.

Do final da 2ª Guerra para cá, a América não parou de investir em armamentos. A intenção era impedir que a União Soviéticas implantasse o regime ditatorial comunista no resto do mundo.

Paradoxalmente, a partir de então, tanto a Rússia - com Afeganistão e Chechênia - quanto a América - com Baia dos Porcos, Coréia e Vietnã - não obstante a sofisticação e modernidade de seus aparatos bélicos, perderam, absolutamente, todas as guerras nas quais se envolveram. E mais recentemente, mesmo após a deposição de Saddam Hussein, o Iraque continua inconquistável pelos americanos.
Com o Muro de Berlim se transformando, literalmente, em peça de museu, a partir de novembro de 1989 diminuíram consideravelmente os pretextos para o envolvimento americano em qualquer tipo de luta armada.

E foi então, se é que ainda existia alguma dúvida em relação a isso, que a América constatou que sua economia era movida a guerras. E como a roda da fortuna não pode parar, foi necessário inventar novos inimigos da paz planetária.

O Oriente Médio volta a ser a bola da vez. E do clima de ódio que - excitando toda a comunidade islâmica - paulatinamente, conseguem estabelecer, para o fatídico 11 de setembro de 2001, foi um pulo. E daquela vez a humilhação americana foi bem mais foi explícita: dois de seus maiores ícones, Pentágono e Torres Gêmeas, foram atacados com sucesso pelos fanáticos comandados por Bin Laden.

Em nossa escalada para o poder, iniciada há milênios com a invenção da agricultura, carregamos uma pesada bagagem de antigos instintos primatas. como resultado, vivemos numa civilização do tipo “Guerra nas Estrelas”, ou seja, dominada por emoções da idade da pedra, instituições com características medievais e tecnologias que nos dão o poder de brincar com Deus. - Edvard O. Wilson

Aparentemente, a economia neo-liberal americana, fundamentada em mercados auto-reguladores, funcionava. Porém, com regras hiper flexíveis. Afinal, era a raposa quem tomava conta do galinheiro.

Sem dúvida alguma, vale a ressalva, que não cabe mais ao Estado moderno exercer papel intervencionista. Todavia, para se justificar enquanto arrecadador de impostos e condutor da pacificação social não pode eximir-se, a que pretexto for, de ser o grande regulador das questões que influenciam, diretamente, o bem estar do cidadão, eleitor e contribuinte. Não há espaço para omissões.

O estouro da bolha imobiliária americana foi meramente pontual e nada mais representou que uma aleatória “bola da vez”. Os deuses do hemisfério norte devem ter decidido isso no pôquer, nos dados ou na roleta. Afinal, a quebradeira poderia ter começado por qualquer outro setor da moralmente viciada economia americana.

Naquela maré de ganhos fáceis, também embarcaram União Européia e Japão. Canadá e México, enquanto “estados americanos” já faziam parte desse imbróglio. A crise atual, portanto, afeta, diretamente, América do Norte, Canadá, México, União Européia e Japão. Indiretamente, todo o planeta. Afinal, a aldeia é global.

Mas a conta dessa concupiscência financeira, com apenas a ponta desse iceberg sinalizando algo em torno de 10 trilhões - estamos conversando em moeda podre, dólares - é para ser cobrada, apenas, dos que dela participaram e portanto, muito em breve seus atores principais serão convidados pelo mercado a abdicarem do podium.

E como o Homem ainda não conseguiu inventar o vácuo, estamos assistindo ao início da era pós-hegemônica norte-americana. Daqui para frente, os hoje chamados países emergentes ganharão força no cenário político, financeiro e econômico internacional.

Estamos assistindo a derrocada de um império e a ascensão de seus ex-vassalos. Vamos torcer para que se estabilizem em uma convergência e, a partir de então, já sob a ótica de um juízo maior, caminhem juntos rumo à solidificação de um ordenamento ético bem mais profícuo.

A América do Norte, é bom que façamos o registro, foi o país que no menor espaço de tempo mais contribuiu para o avanço tecnológico planetário ao longo de toda a sua história e, talvez, nesse nosso brevíssimo relato, possamos estar dando a impressão de que não gostamos do país irmão do norte ou da própria União Européia. Não, não é isso não.

O que vimos procuramos alertar durante esse relato é que, por conta do “estado de guerra permanente”, da mesma forma em que desenvolvia tecnologia de ponta, na exata proporção, uma série de valores morais iam sendo descartados e substituídos por uma competição destrutiva, amoral, viciada, desumana, predatória.

Por conta disso, alcançou o status de ser a primeira nação da história a conseguir completar o ciclo de ascensão, apogeu e queda no mais curto espaço de tempo até aqui registrado: um século.

Entra para o Guiness Books como recorde negativo. E sem qualquer expectativa concreta de revertê-lo para um grand finale, independentemente do colorido do discurso do presidente que por lá estiver de plantão.

A atual débâcle do dito primeiro mundo, e por mais que os analistas se esforcem para encontrar substância nessa linha de raciocínio, não é de origem econômica e, muitíssimo menos, financeira: é, exclusivamente, sócio-moral.

Quando os ventos da mudança sopram, alguns constroem abrigos, outros, moinhos. - Claus Möller

Aqui pelo Brasil, mais notadamente a partir de 2002, a área econômica, não obstante todos os percalços de trajeto, vem sendo conduzida com diplomacia, discrição, firmeza e, fundamentalmente, muito bom senso. Nada de rompantes nacionalistas. Nada de ameaças descabidas. Nada de promessas que não sejam viáveis. Nada de oba-oba.

A partir disso, nossa economia vêm conquistando sucessivos e expressivos resultados que, em efeito cascata, alimentam recordes que se acumulam em todos os setores.

Não se constrói um país da noite para o dia. Nem se o quebra, como já observamos no transcorrer dessa narrativa. O sucesso ou o fracasso, sempre, estão atrelados ao entendimento, ou não, de que só é possível haver êxito sustentável a partir da deflagração de um processo que contemple em seus fundamentos a ética, o conhecimento, a disciplina e a persistência.

Não há potes de ouro enterrados nas extremidades dos arco-íris.

Os inéditos números da atual conjuntura econômica brasileira nos dão a tranqüilidade de entender que, continuando pela mesma rota que já estamos percorrendo, os incômodos desse ajuste de contas do primeiro mundo consigo mesmo serão, por nós, perfeitamente contornados.

Hoje, as exportações brasileiras respondem, apenas, por 13% do PIB. Há um mercado interno pujante garantindo o crescimento sustentado do país. Ou seja, a crise é lá. A crise é de quem a vem embalando em berço de ouro desde seu nascedouro.

O Brasil é a única grande economia analisada no Indicador Composto Avançado da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - que não terá uma forte desaceleração de sua atividade econômica. Essa notícia foi muito pouco divulgada pela mídia.

Aliás, hoje, esta nossa sociedade pós-moderna, ou sociedade da informação, é aquela em que as coisas não são o que são, mas aquilo em que se tornaram. Trata-se da sociedade-espetáculo, à qual se refere Gilberto Dupas, onde há muita circulação de informação e baixíssima densidade reflexiva: a tecnologia domina o cenário da informação criando heróis e bandidos. Os jogos de imagem definem a essência e constituem as coisas. Por isso hoje, mais importante que o fenômeno em si é a sua aparência na mídia.

Aqui pelo Brasil não é diferente. Na contra mão da história, e completamente descolada do ambiente democrático, salvo raríssimas e honrosas exceções existe uma mídia tresloucada que, como se ungida por algum deus subalterno, ignora os fatos e cria, acima do bem e do mal, versões próprias, como se estivesse a soldo de partidos políticos interessados em desestabilizarem a equipe governamental a fim de ampliarem suas expectativas de assumir o poder em 2010 ou a serviço do corporativismo de determinados segmentos que pretendam, momentaneamente, aproveitarem-se de falsas notícias pontuais, em detrimento da tranqüilidade de toda a sociedade brasileira.

Entretanto, esses comportamentos nocivos não conseguirão adernar o país. Tanto esses maus brasileiros travestidos de jornalistas quanto os que deles se utilizam para perpetrarem seus desígnios egoisticamente perversos, acabarão afogados na marola de uma crise que não chegará por aqui.

Serão rechaçados por uma sociedade que não mais tolera a charlatanice, a indignidade, a falsa devoção, o jogo sujo, a hipocrisia, “o gosto de levar vantagem em tudo, certo?”.

Não existe terra estrangeira. Estrangeiro é o viajante. Robert Louis Stevenson

Essa crise, muito benéfica ao contexto mundial se a olharmos sob um prisma de médio para longo prazo, se transforma em divisora de águas.

Destruindo bezerros de ouro e templos que, ainda hoje, dependem literalmente de sacrifícios humanos, possibilita que, finalmente, emirja uma consciência planetária mais ajustada com os anseios de uma modernidade que se cunha nos contornos da disseminação do conhecimento, do respeito pelas diferenças, do trabalho produtivo, da remuneração justa, do consumo parcimonioso, da eliminação das ancestrais e caducas querelas territoriais e religiosas entre os povos e do sumo entendimento de que, em momento algum da história, houve algum registro de que tenha sido bom ganhar sozinho.

Somos animais sociais por excelência. E portanto, contrariamente a lei da física, nas relações humanas os opostos não se atraem. Assim sendo, quantos mais iguais houver tanto melhor. E isso só é plausível de ser conseguido na medida em que, mais e mais, nações e pessoas consigam inserir-se e usufruir das estupendas conquistas perpetradas pelo Homem até então.

Nesse momento histórico para a humanidade, e do qual somos todos protagonistas, ao empresariado brasileiro sintonizado com a modernidade cabe não se deixar levar pelas alarmantes notícias de uma mídia irritadiça, nervosa, histérica ou, em alguns casos, pior que isso, venal, e continuar gerenciando seus empreendimentos com ética redobrada a fim de não descolar os seus negócios de uma massa consumidora interna que emerge pujante.

É necessário que nos apercebamos que não somos mais uma nação de vira-latas e que a hora de crescer é agora. Ou melhor, de continuarmos crescendo. Não há crise no Brasil. Pelo contrário. O que há são inéditas oportunidades.

Comungar desse juízo, no entanto, é questão de foro íntimo, é inalienável, sagrado e personalíssimo entendimento de cada qual.

A avaliação final de sua vida não será feita pela apreciação de quão bem você viveu, mas sobre quão bem, ou não, viveram outras pessoas por causa de você. - William Henry Gates III

 

Geraldo Ferreira De Araujo Filho ([email protected]) é consultor de estratégias corporativas, palestrante, professor e autor dos livros "A Criatividade Corporativa na Era dos Resultados" e "Empreendedorismo Criativo, a nova dimensão da empregabilidade".

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