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A Mágica Atração do Agora
Um ensaio sobre o novo ordenamento sociomoral planetário
© 2009 Geraldo Ferreira de Araujo Filho

“Horroriza-me saber que a ética é uma disciplina opcional em Harvard.” sir John Harvey-Jones

Nunca, ao longo de toda a história conhecida, um fato se disseminou tão rapidamente e desarrumou, em tão pouco tempo, o status quo planetário. De toda sorte, a quebra da América do Norte, arrastando em seu vácuo a União Européia e o Japão, configurou-se bastante oportuna. Mais que isso até, extremamente necessária.

Para vivificar a situação que estava institucionalizada, basta-nos lembrar que desde antes da virada do milênio a economia do primeiro mundo vinha com todo o seu sistema, fosse relativamente à vertente financeira, industrial ou comercial, inteiramente atrelado às oscilações especulativas dos mercados: um quatrilhão e 78 trilhões de dólares, em um exemplo mais recente, foi o número oficialmente divulgado sobre a movimentação desse cassino global em 2002 enquanto, naquele mesmo ano, apenas 70 trilhões eram direcionados para a economia real.

Sendo assim e em vista da magnitude dos dígitos desses algarismos - que quando transformados em números, de tão delirantes, nos turvam de tal forma o raciocínio que nos remetem à sensação de que, finalmente, desvendamos e colocamos em prática a demonstração da equação do infinito - declinamos de prosseguir na análise mais profunda dessa megacontabilidade, posto que desperdiçaríamos precioso espaço e acabaríamos por nos desviar do foco central desse sucinto arrazoado: a crise não é econômica e, muitíssimo menos, financeira. A crise é sociomoral.

“Se quisermos progredir não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova.” Mahatma Gandhi

Nos últimos 60 anos nunca houve falta de dinheiro nos mercados. E o ano de 2008 não foi a exceção que confirmou essa regra geral. Contudo, durante todo esse período, o que ininterruptamente se fez escasso, parco e insuficiente, foi a mais modesta, acanhada e estreita probabilidade de que pudessem ser aquinhoados com um débil carinho, um mimo fortuito, um agrado acidental, que seja, os mais elementares princípios éticos que, monótona e repetitivamente, desde sempre balizaram todas as bíblias, tripitakas, alcorões, Tanakhs e demais cartas sociais intuídas pelos deuses de todos os credos.

O que não tinha vez - também e no entanto - era a mais rudimentar percepção de que o feitiço daquela vilania financeira, daquele absurdo econômico, daquela impossibilidade ética, poderia transmudar e virar-se contra os feiticeiros que incessantemente remexiam, mais e mais, os enormes caldeirões alimentados por generosas poções de uma aviltante concentração de renda, da angústia dos rejeitados pelo mercado de trabalho, do suplício dos deserdados pelas guerras, da fome secular do terceiro mundo.

E foi a elementar desconexão daquela sinistra confraria com a realidade que a circundava - e a exemplo das bruxas de final de história nos contos de fadas - o que acabou por arremessá-la àqueles caldeirões, transformando-a de mestre cuca em ingrediente e alterando, definitivamente, a consistência e o sabor do tempero daqueles grossos caldos para o de uma leve e mágica poção que, por força de mandinga ou sortilégio próprios, arrastou a nefasta filosofia dos mercados do primeiro mundo à atual e irreversível bancarrota.

“Nenhum ser humano é uma ilha em si mesmo.
Somos todos parte de um continente, uma parcela de terra principal.”
Carl Gustav Jung

A primeira reunião do G-20 pós-crise, no começo de abril de 2009, demonstrou que aquele encontro dava início a um processo novo, a um irreversível ciclo de profundas alterações nos parâmetros das avaliações e julgamentos de valor. E uma interpretação bem distinta do que era o entendimento plural de um restrito primeiro mundo, como que adubado pela força daquela primavera londrina, floresceu, desbancando o amontoado de imperfeições éticas de uma civilização que, vítima da Lei do Retorno, afadigou-se frente às próprias mazelas.

Prova disso é que logo em seguida, sob os auspícios da OEA - Organização dos Estados Americanos -, ainda no final daquele mesmo mês, na 5ª Cúpula das Américas realizada em Port of Spain, capital de Trinidad e Tobago, entrou aquele minúsculo país caribenho para a história como tendo sido a sede de um encontro onde ficou clarificado o entendimento de que os interesses das nações do continente americano sobrepõem-se à visão antepassada de um primeiro mundo colonialista que, assombrado, vê-se obrigado a também repartir o poder com os demais Estados que retalham a contemporânea geografia do globo terrestre.

O planeta hoje possui 195 nações. Não há, portanto, espaço para hegemonias econômicas. Para imposições culturais. Para supremacias beligerantes. Não há mais clima, enfim, para nada mais que não contemple a heterogeneidade, a dessemelhança, a diversidade. A graça do mundo reside na aceitação da diferença, no consentimento da pluralidade, na aquiescência do novo, na curiosidade de conhecer, de experimentar, de trocar e de, por fim, enriquecermo-nos com o que não nos é igual.

A antológica composição dos imortais Tom e Vinícius, “se todos fossem iguais a você”, fascina enquanto ode pontual à mulher amada, enquanto inspiradíssima figura de imagem, enquanto expoente da retórica de dois trovadores permanentemente apaixonados pelo coquetismo de um feminino que ao longo de toda a parceria jamais se cansaram de exaltar. No entanto, somente assim, enquanto poética metáfora.

“A grande revolução do século XXI será a da descoberta do Homem por si mesmo.”
Pilar Rahola

A crise atual é redentora. Contrapôs-se às alucinações dos poderosos do primeiro mundo que, até então, travestidos de delegados com virtudes superlativas apresentavam-se para o resto do mundo como os guardiões de uma moralidade que somente existia para lhes acobertar os personalíssimos desatinos éticos e as particulares contradições morais.

Hoje, todavia, encontram-se nos palcos do mundo em constrangedoras performances, despojando-se teatralmente daquelas avelhantadas fantasias em sucessivos atos de mea culpa, como se fossem beligerantes cruzados voltando, derrotados, de uma última e frustrada tentativa de apoderar-se do que não lhes pertence.

Ansiosos, buscam a atenção de uma platéia que, abismada com a constatação dos desmandos perpetrados, piedosamente, no entanto, ainda lhes provê o ganha pão inferindo que, após as penitências que lhes serão impostas pelo próprio contexto tenebroso que articularam poderão voltar, redimidos, agasalhando-se no convívio do novo ordenamento ético-moral que desde agora já se faz delinear em tintas fortes, no juízo de uma comunidade planetária que avança em largos passos na direção da conquista das benesses de um terceiro milênio harmonioso.

Irreversivelmente, a criação de uma moeda sem o colorido de qualquer bandeira de qualquer das nações existentes impedirá que a conta das orgias perpetradas pelo dito primeiro mundo seja rateada por quem delas não participou e muito mais breve que se possa imaginar estará aviventando o descolamento da poupança mundial da moeda americana que, a olhos vistos, dia-a-dia se esfarela na ampulheta mercadológica, vitimada pela desfaçatez de um jogo de cartas marcadas que, pensavam eles, jamais teriam que pagar para ver.

O mundo mudou. O mundo mudou muito. O mundo mudou muito e mudou para melhor. Há pairando sobre o orbe do Planeta Azul uma intensa eletricidade alimentando o juízo de que o coletivo é forte enquanto ambiente pacífico. Uma inteligência maior que rejeita peremptoriamente o uso da força bruta para a consecução de quaisquer objetivos, estejam eles a serviço do entendimento que estiverem.

Uma energia viva exponenciando a certeza de que não mais interessa o progresso que ao invés de agregar, desaglutina, estratifica e aprofunda conflitos. Uma mediunidade que se expande intuitiva, avigorando a constatação de que o Homem é muito mais importante que qualquer sistema, processo ou filosofia que não o contemple como cliente platinum no âmago de suas formulações.

E essa suave fragrância que se esparge pelos quatro cantos do mundo e abraça seus sete mares nada mais é do que a inevitável resultante dessa mágica atração do agora.

“Aproveite o momento.” Horácio

 

Geraldo Ferreira de Araújo Filho é consultor de estratégias corporativas, palestrante, professor e autor de “A Criatividade Corporativa na Era dos Resultados” e Empreendedorismo Criativo, a nova dimensão da empregabilidade”

Venceu o Concurso de Artigos da Callmunity em junho/2005 (Século XXI S/A) .