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O Sapateiro e a Pirralhinha
© 2004 Patricia Gatto

Aos dezessete anos de idade, eu ainda era uma pirralinha. Uma mistura de inocência, imaturidade e de correção. E eu mantinha essa atitude em todas as ocasiões, até mesmo desta vez, quando fui ao sapateiro.

Agora, para entender por que algo tão simples quanto uma ida ao sapateiro ficaria retida na minha mente por todos estes anos, eu tenho que explicar. Nasci do mais amoroso casal de pais que uma criança poderia desejar ter. Mesmo naquela época, eu sabia que era abençoada com uma família maravilhosa, mas esta realização também me tornou um pouco arrogante. Minha feroz devoção pela minha família poderia ser encoberta algumas vezes.


Quando meu pai me pediu que buscasse seus sapatos no sapateiro, eu me senti entusiasmadamente compelida. Embora ele raramente pedisse algo, eu amava fazer favores para ele e este era um pedido fácil. Ou assim eu pensei. Esta simples incumbência provou ser mais assustadora que eu inicialmente tinha avaliado, mas também me proporcionou uma valiosa lição de vida.

Em minha primeira tentativa de apanhar os sapatos, fui informada de que eles não estavam prontos. "Por favor, volte depois" , disse o sapateiro. Porém, embora ele tenha dito "por favor ", a resposta dele foi curta.
Até onde eu sabia, meu papai nunca cometia enganos, assim eu olhei para o recibo e confirmei que eu estava na data certa. "O recibe diz que eles estariam prontos hoje", eu respondi em um tom indignado.

"Amanhã" foi tudo o que ele disse. Então ele virou-se para o seu próximo cliente. Eu estava certa de que ele não precisava de lições de uma adolescente sobre suas obrigações empresariais.

Propensa ao dramatismo da minha mocidade, revirei meus olhos e parti para a queixa, falando sobre a sua falta de responsabilidade bem no meu nariz.

Quando eu voltei no dia seguinte, pronta para perdoar pela inconveniência, eu fui informada de que os sapatos não estavam prontos. Oh, você entenderia que uma tragédia golpeou o meu mundinho perfeito. Meu papai precisa dos sapatos dele, pensei. Como o sapateiro poderia ser tão imprudente? Saí como um relâmpago para fora da loja sem uma palavra se quer, mas a minha linguagem corporal gritou bem alto.

No terceiro dia minha ida rendeu os mesmos resultados. E agora eu estava furiosa com o sapateiro. Quem ele pensa que é? Que tipo de negócio ele acha acha que tem?

Sem pestanejar, eu exigi os sapatos de volta. Ele atendeu meu pedido. Tirou os sapatos de uma pilha grande na sua banca de trabalho e os empurrou para mim dentro de uma sacola. "Aqui está, mocinha", ele disse com um sorriso.

Eu estava esfumaçando. Peguei a bolsa, lancei para ele um sarcástico "obrigado " e bati a porta atrás de mim.
Quando cheguei em casa, eu expliquei tudo a meu pai. Como sempre, meu modo de falar era animado. Apertei a bolsa, imitei o sapateiro e caminhei ao redor da sala de estar representando minha saída dramática da loja. Então, entreguei a bolsa para ele. Meu pai olhou a bolsa e sorriu.

"Querida, eu te amo. Eu estou tão contente de você se preocupar assim com meus sapatos, mas o que eu vou fazer agora com eles?"

Quando ele tirou os sapatos da sacola os saltos estavam descolados e as solas por remendar. Eles eram inúteis, como um paciente arrancado de cirurgia antes do doutor terminar a operação.

"Paciência, querida", ele disse suavemente. "Não há nada que você possa fazer sobre algo em que você não exerce nenhum controle".

Tentei discutir a respeito da sua lógica. Eu lhe falei que o sapateiro tinha uma trabalho a fazer e não cumpriu a sua obrigação. Meu pai sorriu novamente.

"Querida, pense nisto. É apenas um par de sapatos. Eu tenho outros. Escolha suas batalhas sabiamente e sempre as enfrente com respeito. Amanhã você devolverá os sapatos ao sapateiro e se desculpará. Explique que você entende que ele está ocupado. Eu tenho certeza que você vai obter resultados positivos".

É assim que meu papai administra a vida dele, com paciência e respeito. Não importando o tipo de acontecimento. Esta é uma das muitas razões porque eu o amo tanto.

A resposta de meu pai não foi depreciativa ou desrespeitosa. Ele me lembrou que nós nem sempre podemos ter o que nós queremos. Ele mostrou para mim que nossas reações a uma situação difícil demonstram o nosso verdadeiro caráter. Aceitação, perdão e compreensão são elementos fundamentais a uma perspectiva saudável de vida.

A partir daquele dia, sempre que eu estou em uma situação difícil, lembro-me de não estar de salto alto, e sempre lembrar da sola descolada do sapato.

 

Patricia Gatto e John De Angelis são os autores do Milton's Dilemma (Dilema de Milton), o conto da viagem mágica de um menino solitário para a amizade e auto-aceitação. Como defensores dos diretos da alfabetização e das crianças, os autores fazim palestras em escolas e eventos de comunidades para despertar a consciência e proporcionar para as crianças um ambiente de aprendizagem seguro e saudável. Para mais informações visite Joyful Productions em www.joyfulproductions.com

© Copyright 2010 Adolfo Breder ([email protected]) da versão para o português do texto original em inglês: The Shoemaker and the Brat

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