Preste Atenção nas Abóboras
© 2009 Leonard Porcano
Quando eu tinha por volta dos 5 anos, cultivei uma abóbora. Minha mãe estava plantando seu jardim, e eu quis cultivar algo também. Escolhi cultivar uma abóbora. Preguiçoso e teimoso, como todos da minha idade, decidi que o melhor lugar para cultivar minha abóbora era no pedregulho que ladeava nossa calçada. Arrastei umas pedrinhas e derramei o conteúdo do meu pacote de sementes de abóbora no buraco. Em seguida cobri de volta com o pedregulho. Reguei o conjunto com nossa mangueira e voltei a brincar com minhas miniaturas de carrinhos, os famosos Matchbox.


Diariamente eu inspecionava minhas sementes de abóbora com intenção de acompanhar seu progresso. Depois de alguns semanas, brotaram do pedregulho os primeiros caules e folhas. Neste momento comecei a acreditar que eu tinha talento para a jardinagem. Aqueles conselhos que tinha recebido a respeito de onde plantar e o tipo de terra apropriado estavam claramente errados.

Uma certa manhã, quando fui fazer minha inspeção, observei algumas manchas alaranjadas no meio das folhas. Imediatamente afastei as folhas e descobri uma abóbora grande. Era uma abóbora maravilhosa, grande, laranja e perfeita. Fiquei sem entender como não a tinha percebido até aquele momento. Arrastei a abóbora até nossa casa onde minha mãe ficou inacreditavelmente impressionada. Eu não me gabei do fato de saber onde plantar minhas sementes e que ela não.

Apesar deste sucesso incrível tão cedo, eu não segui a carreira de jardinagem pelos próximos 16 anos. Agora eu estava agora com meus vinte e poucos anos e casado. Recém casado e minha esposa, Marie, estava tentando plantar o seu próprio jardim. Ela reclamava que estava tendo muita dificuldade em fazer as plantas crescerem.

Eu, um marido cortês, lembrei-me do meu sucesso em jardinagem e ofereci minha ajuda. Quando interrogado sobre o que me qualificou para oferecer conselhos, depressa contei minha história sobre a abóbora. Era uma história que eu já tinha contado várias vezes e que me deixava bastante orgulhoso. Bem, a resposta de Marie não foi exatamente a que eu esperava. Em lugar de agarrar a chance de ter uma real ajuda do meu dedo verde, ela começou a rir. Quanto mais eu afirmava que a história era verdadeira, masi ela caía na risada. Eu não podia deixar isto assim. Insisti que nós tínhamos que confirmar a história com a minha família no fim de semana. Afinal de contas, todos tinham visto a minha abóbora e até mesmo ajudaram esculpir uma lanterna de halloween.

Chegou o fim de semana e eu não pude esperar provar à minha esposa que eu tinha cultivado aquela abóbora de verdade. Passei o roteiro na minha cabeça várias vezes. É lógico que eu seria cortês quando ela se visse forçada a se desculpar a mim, pela minha história e por questionar minhas habilidades na jardinagem. Tínhamos acabado de entrar na casa da minha mãe quando eu pedi para ela confirmar a história na frente da Marie. Minha mãe olhou para minha irmã. Minha irmã olhou de volta para minha mãe. Então minha irmã começou a rir. Comecei a sentir que algo não estava certo, quando minha mãe jogou a granada sobre mim.

Vejam só: os aules e folhas que eu molhei com toda atenção eram simplesmente ervas daninhas que minha mãe não teve coragem de arrancar. Como as ervas daninhas cresceram, e eu continuei molhando, minha mãe preesentiu que nunca sairia uma abóbora dali. Assim, uma noite, ela parou no mercado e apanhou uma abóbora. Enquanto eu estava dormindo tranquilamente na minha cama, ela colocou a abóbora cuidadosamente entre as ervas daninhas que eu tinha estado cultivando. No dia seguinte, eu descobri minha realização.

Agora eu acredito que toda história e toda experiência tem um lado positivo. Você pode tirar algo de bom de tudo se olhar com atenção. Entretanto, neste caso, mais 10 anos se passaram para eu encontrar este sentido. Eu estava tendo problemas com uma pessoa com quem eu trabalhava. Ele tinha uma posição intransigente em relação às pessoas que pensavam diferente dele. Não importava o tipo de evidência ou lógica que eu apresentasse, este sujeito não conseguia abrir mão dos seus pontos de vista. Era óbvio que ele estava errado, mas nada que eu podesse dizer ou fazer adiantava. Foi durante uma conversa com este sujeito, que eu percebi.

Estes pensamentos, que ele trazia desde a infância, eram a sua abóbora. Ele não possuía uma opinião diferente da minha, ele estava imerso numa realidade diferente. Não houve jeito de convencê-lo de que sua realidade era defeituosa, assim eu deixei de tentar. E aceitando que a realidade dele e a minha eram diferentes, eu pude achar um ponto onde nós pudemos nos dar bem.

Na realidade nossas mentes são incapazes de experimentar uma realidade verdadeiramente objetiva. Cada um de nós tem um conceito de realidade amoldado por nossas experiências.

A primeira lição que eu tirei disto é que nós somos responsáveis por nossas próprias abóboras. Cada de nós tem que ter responsabilidade de reconciliar nossa realidade ou nossa visão de mundo com aqueles que nos rodeiam. Não dá para você fazer isto por alguém, você só pode cuidar da sua própria visão.

A segunda lição é que todo o mundo tem suas abóboras. Todos nós temos lugares dentro de nossa realidade que não têm correspondencia com quem está à nossa volta. Lugares onde, bom ou ruim, nós experimentamos o mundo de modo diferente. É importante perceber isto e estar atento a estas diferenças.

E, finalmente, todo o mundo inclui você. Assim da próxima vez que você se achar em discordância com alguém, perceba que a coisa que está se colocando entre vocês pode ser uma abóbora. Pode ser até uma abóbora que voc^re tenha colocado e não eles.

 

Leonard Porcano atualmente administra a Novisi (http://novisi.com/), uma empresa de desenvolvimento para Web. Você pode visitar o blog de Leonard em http://inspirinet.com / Ele gosta de velejar e de corridas de veleiros e até mesmo dedica algum tempo no verão para dar aulas de navegação para deficientes visuais.

© Copyright 2010 Adolfo Breder ([email protected]) da versão para o português do texto original em inglês: Watch Out for Pumpkins

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