Comprar é Fácil, Quero Ver Manter!
© 2008-2011 Adolfo Breder

 

A frase do título foi ouvida no meio do alarido das tardes da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. Uma frase descolada do seu sentido original, mas um coringa para diversas aplicações.

Comprar e vender são duas faces de um mesmo relacionamento. O que vale para o consumidor vale para o fornecedor. Um tem que querer o outro. Suas necessidades têm que ser complementares.

A frase daquela senhora na ruidosa tarde carioca, perdida no espaço e no tempo, traz uma verdade constantemente relegada ao segundo plano em planejamentos apressados: a continuidade, ou a palavra da moda, sustentabilidade.


Talvez ela estivesse comentando sobre a prima que comprou uma casa de veraneio para esnobar toda a família. Quem sabe não se tratava da aquisição de um veículo de luxo através de um longuíssimo consórcio? Quem comprou, comprou para realizar um sonho, o comentário matreiro dá essa deixa.

Invertendo os sentidos podemos dizer: Vender é fácil, quero ver manter!

Aí mora o perigo de muitas empresas descuidadas. Fazem alardes sobre seus produtos e serviços, atraem uma miríade de vorazes consumidores e pecam no atendimento e no pós-venda.

A meta de cada empreendedor é atrair mais e mais clientes reincidentes e com negócios crescentes. Por que ele não gasta seu tempo em inspirar e compartilhar seus sonhos com todos os seus colaboradores? A impecável newsletter quinzenal cativa e alimenta expectativas. A vitrine natalina cobiça cada olhar passante com muito charme. O call center se despede com uma frase linda, recitada mesmo depois de uma bronca de todo tamanho!

Mas a fatura mensal vem com erros banais. A embalagem da comida congelada está úmida e desfeita. Não instalam a linha telefônica solicitada há tempos. Colocam perigosamente o leitor de cartões nas costas do passageiro. Mudam ingredientes e a cor da massa preferida e o adoçante do cafezinho sem maiores explicações. Marcam a hora de uma entrega e tripudiam em muito a minha paciência.

O consumidor está muito mais consciente de seus direitos e o boca-boca é uma faca de dois gumes: por um lado ergue lentamente sua credibilidade. Por outro, desfere um golpe rápido e letal para suas pretensões, quando as santas promessas não são cumpridas e uma romaria de incrédulos passantes rumina: vender é fácil, quero ver manter!

 

Adolfo Breder ([email protected] ) é consultor nas áreas de Telesserviços e Telecomunicações, gestor do projeto social Escola de Talentos, editor do site Callmunity.com e colunista do portal Nos da Comunicacao.

Imagem: Callmunity 2011 - Grafiteiros do Rio de Janeiro